'Baby Shark': como vídeo de 90 segundos gerou negócio de US$ 400 milhões
Getty Images via BBC Quando Kim Min-seok autorizou, em junho de 2016, a publicação de um clipe de 90 segundos de uma canção infantil, ele não tinha ideia d...
Getty Images via BBC Quando Kim Min-seok autorizou, em junho de 2016, a publicação de um clipe de 90 segundos de uma canção infantil, ele não tinha ideia do impacto que teria. A música se tornou um fenômeno global, com mais de 16 bilhões de visualizações — o vídeo mais visto da história do YouTube. A canção era a grudenta "Baby Shark". Além de conquistar crianças e irritar adultos ao redor do mundo, a música abriu caminho para que a criadora, a empresa sul-coreana Pinkfong, se tornasse um negócio de mídia avaliado em centenas de milhões de dólares. Veja os vídeos que estão em alta no g1 "Não esperávamos que se destacasse do nosso outro conteúdo", disse Kim, CEO da Pinkfong, à BBC, do escritório da empresa em Seul (Coreia do Sul). "Mas, olhando para trás, foi um ponto de virada que preparou nossa trajetória global." Na terça-feira (18), essa trajetória levou a Pinkfong ao mercado de ações da Coreia do Sul, onde suas ações subiram mais de 9% na estreia, dando à empresa uma avaliação de mais de US$ 400 milhões (cerca de R$ 2 bilhões). O CEO da Pinkfong, Kim Min-seok, participa da cerimônia de abertura de capital da empresa Getty Images via BBC 'Não esperávamos salário' Fundada em 2010 como SmartStudy, a empresa produzia conteúdo digital para crianças de até 12 anos. No início, tinha apenas três funcionários, incluindo Kim e o diretor de tecnologia, Dongwoo Son. "O escritório era minúsculo, ainda menor que este", lembrou Kim, apontando para a sala de conferência de onde falava. Era tão pequeno que "nem esperávamos receber salário na época", disse, por meio de um tradutor. A empresa foi renomeada Pinkfong em 2022, inspirada em sua personagem raposa, alegre e curiosa Getty Images via BBC A Pinkfong passou por várias reformulações, incluindo a mudança de foco para crianças pequenas. A empresa cresceu para cerca de 100 funcionários e passou a priorizar jogos e conteúdos educativos simples. "Foi quando 'Baby Shark' surgiu", explicou Kim. Desde 2022, a empresa é chamada The Pinkfong Company, nome inspirado em uma raposa alegre e curiosa de um de seus primeiros desenhos. Hoje, conta com cerca de 340 funcionários, com escritórios em Tóquio (Japão), Xangai (China) e Los Angeles (EUA). O fenômeno 'Baby Shark' Acredita-se que "Baby Shark" tenha surgido nos Estados Unidos nos anos 1970, sendo cantada em acampamentos de verão infantis. A música, que repete a frase "Baby shark, doo, doo, doo, doo, doo, doo", é "atraente para crianças, embora possa irritar adultos", afirmou Kevin Chew, analista de mídia da Nanyang Technological University (Cingapura). Kim também reconhece a força da canção. "É como uma música de K-pop. Muito rápida, ritmada e viciante", disse, acrescentando que a melodia tem efeito "chanting" (de repetição), facilitando a memorização pelas crianças. O sucesso, porém, não foi imediato. O vídeo só ganhou popularidade quando a coreografia foi apresentada em eventos infantis no Sudeste Asiático. Clipes de crianças e adultos dançando a música começaram a se espalhar online e o vídeo viralizou. "Havia uma sensação de festa no escritório", disse Kim, ao acompanhar a escalada de visualizações. Em novembro de 2020, o clipe tornou-se o mais visto do YouTube. Nos anos seguintes, gerou cerca de metade da receita da empresa e se tornou plataforma para novos conteúdos e produtos, afirmou o executivo. Em 2019, a Pinkfong enfrentou um processo ao ser acusada de plagiar um compositor americano. O Supremo Tribunal da Coreia do Sul rejeitou o caso, depois que a empresa argumentou que sua versão derivava de uma canção folclórica de domínio público. A vitória, disse Kim, impulsionou a empresa no momento de abrir capital. O pedido de IPO (sigla em inglês para abertura de capital na Bolsa de Valores) havia sido protocolado antes do veredito. Um sucesso isolado? Outras franquias da Pinkfong, como "Bebefinn" e "Sealook", crescem rapidamente, mas a empresa precisa provar que não depende apenas de "Baby Shark", disse Min Jung Kim, professora de negócios da Korea University (Coreia do Sul). O público-alvo, acrescentou, é uma vantagem, pois crianças pequenas tendem a assistir repetidamente ao mesmo material. Kim Min-seok afirma que o negócio pode crescer além de "Baby Shark", que hoje representa cerca de um quarto da receita da empresa. Enquanto isso, "Bebefinn" já responde por cerca de 40% dos ganhos. Um pai disse à BBC ter sentimentos contraditórios sobre os vídeos da Pinkfong. Saleem Nashef, pai de dois filhos, valoriza o caráter educativo do conteúdo, mas sua esposa considera "Baby Shark" "estimulante demais para crianças". Mesmo assim, o vídeo viral é inevitável: a filha do casal, prestes a completar três anos, terá festa de aniversário com tema "Baby Shark". Ainda não está claro se a Pinkfong conseguirá criar outros personagens com apelo comercial semelhante, disse Min, da professora da Korea University. A empresa arrecadou quase US$ 52 milhões (cerca de R$ 260 milhões) em sua estreia na bolsa e planeja usar o dinheiro para ampliar a linha de filmes e personagens, afirmou Kim, da Pinkfong. O objetivo também é se tornar uma produtora de conteúdo "tech-driven" (orientada por tecnologia), usando padrões de visualização e outros dados para moldar novos projetos. "Alcançamos o que muitos criadores sempre sonharam", disse Kim. Agora, a empresa precisa mostrar aos investidores que não é apenas um sucesso isolado. Reportagem adicional de Rachel Lee, do podcast Asia Specific.